segunda-feira, 8 de abril de 2019

Arroto, peido e cocô


Conviver é complicado. 
O cotidiano é complicado. 
Quando a gente tá numa relação de "dia ou outro", a gente releva muita coisa. Deixa pra lá, vai pra casa e respira novos ares. Depois vê que nem era tão assim, mas a proximidade e a "impossibilidade" de ir-se faz tudo ficar mais efervescente.

Mas é o começo... Depois vem a leveza da liberdade de Ser e Estar a dois.

Enquanto a gente não convive tempo suficiente debaixo do mesmo teto, a gente não faz ideia do teretetê que é a intimidade. Porque veja bem, se você mora em outra casa, você aguenta até lá para peidar e/ou cagar... Mas quando você mora na mesma casa, amigo... Não dá...
É uma metáfora muito completa para as fases da relação... Veja bem, no começo a gente sempre finge ser uma versão melhor do que somos, normal. Tu finge e eu também. Eu finjo que acredito e você também. E tá tudo bem. Até o primeiro arroto que sai assim sem querer... Como aquela crítica ou aquela vacilada de levinho, o primeiro indicio de nossa imperfeição. E depois é um tal de comprimir daqui e dali .. Que é só a bomba relógio se formando... 
Com o tempo a gente vai relaxando e permitindo que o nosso companheiro conheça esses lados que não curtimos muito, arrotamos aqui e ali, dizemos mais o que pensamos. A gente vai relaxando.
Mas ainda não cagamos ou peidamos... Desaparecemos por largos momentos, mas estávamos apenas arrumando o cabelo, tomando banho ou respondendo a um e-mail...
Mas quando a gente tá debaixo do mesmo teto, mermão.. Não tem jeito não. Uma hora a gente se dá conta que o parceiro caga e que peida. 'Aí meu Deus! Se eu me dei conta, ele também!' A gente começa a perceber, que ele/eu não era não perfeito assim, que deixa a roupa suja pelo chão, que faz mais zona que você, que come seu chocolate e as vezes não tá afim de te escutar. Que acorda de mau humor, assim como você. Que tem momentos de extrema grosseria. A gente sente o cheiro da merda. A gente vê tudo aquilo que não tinha visto ou não queria ver antes, o real.
Mas eu creio que só aí que a gente consegue ver também o outro lado. As pequenas gentilezas, o beijo de bom dia, o carinho para o café da manhã, deixar agua quente para você se banhar também, as massagens nos dias de luta... É porque a gente também tá aliviado. A gente também parou de fingir que não faz nada errado. A gente deixa a perfeição fingida, deixa de estar enfezado (esse é o termo que eu mais gosto em português, porque é literalmente estar cheio de fezes, constipado e portanto no limite da irritação e loucura). A gente se esvazia dos excessos, do que não pertence e passa a experimentar o que é.

Eu desejo que todos aprendam a viver com os arrotos, peidos e cocôs dos seus parceiros. A vida imperfeita é mais bonita, simpática e empática.
Eu cago, tu cagas, nós cagamos!

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