Conviver é
complicado.
O cotidiano é complicado.
Quando a gente tá numa relação de
"dia ou outro", a gente releva muita coisa. Deixa pra lá, vai pra
casa e respira novos ares. Depois vê que nem era tão assim, mas a proximidade e
a "impossibilidade" de ir-se faz tudo ficar mais efervescente.
Mas é o começo...
Depois vem a leveza da liberdade de Ser e Estar a dois.
Enquanto a gente não
convive tempo suficiente debaixo do mesmo teto, a gente não faz ideia do
teretetê que é a intimidade. Porque veja bem, se você mora em outra casa, você
aguenta até lá para peidar e/ou cagar... Mas quando você mora na mesma casa,
amigo... Não dá...
É uma metáfora muito completa para as fases da relação... Veja bem, no começo a gente sempre finge ser uma
versão melhor do que somos, normal. Tu finge e eu também. Eu finjo que acredito
e você também. E tá tudo bem. Até o primeiro
arroto que sai assim sem querer... Como aquela crítica ou aquela vacilada de
levinho, o primeiro indicio de nossa imperfeição. E depois é um tal de
comprimir daqui e dali .. Que é só a bomba relógio se formando...
Com o tempo a gente
vai relaxando e permitindo que o nosso companheiro conheça esses lados que não
curtimos muito, arrotamos aqui e ali, dizemos mais o que pensamos. A gente vai
relaxando.
Mas ainda não
cagamos ou peidamos... Desaparecemos por largos momentos, mas estávamos apenas
arrumando o cabelo, tomando banho ou respondendo a um e-mail...
Mas quando a gente
tá debaixo do mesmo teto, mermão.. Não tem jeito não. Uma hora a gente se dá
conta que o parceiro caga e que peida. 'Aí meu Deus! Se eu me dei conta, ele
também!' A gente começa a perceber, que ele/eu não era não perfeito assim, que
deixa a roupa suja pelo chão, que faz mais zona que você, que come seu
chocolate e as vezes não tá afim de te escutar. Que acorda de mau humor, assim
como você. Que tem momentos de extrema grosseria. A gente sente o cheiro da
merda. A gente vê tudo aquilo que não tinha visto ou não queria ver antes, o
real.
Mas eu creio que só
aí que a gente consegue ver também o outro lado. As pequenas gentilezas, o
beijo de bom dia, o carinho para o café da manhã, deixar agua quente para você
se banhar também, as massagens nos dias de luta... É porque a gente também tá
aliviado. A gente também parou de fingir que não faz nada errado. A gente deixa
a perfeição fingida, deixa de estar enfezado (esse é o termo que eu mais gosto
em português, porque é literalmente estar cheio de fezes, constipado e portanto
no limite da irritação e loucura). A gente se esvazia dos excessos, do que não
pertence e passa a experimentar o que é.
Eu desejo que todos
aprendam a viver com os arrotos, peidos e cocôs dos seus parceiros. A vida
imperfeita é mais bonita, simpática e empática.
Eu cago, tu cagas,
nós cagamos!