domingo, 3 de fevereiro de 2019

A vida numa mochila

É muito louco ver sua vida resumida numa mochila. Logo eu. Logo a minha...

Eu que sempre juntei tudo, que sempre guardei papel de bala daquele dia importante, com a entrada de cinema daquele filme inesquecível.
Mas aí eu decidi migrar...

Logo eu. Enraizada de medo. Fincada no pânico das mudanças. E completamente apaixonada pelo novo. Irônico, controverso e um desafio diário. 
Acho muito engraçado quando as pessoas me dizem que queriam ser "assim como eu, desapegada, 'livre' ...". Logo eu. A galera não tem ideia dos processos vividos. Das etapas até ser 'livre'. Taí uma palavra muito louca, mas isso é pra outro momento... eu tava falando mesmo é da mochila...

Foi um longo caminho para chegar até uma mochila. Primeiro foi uma mala que pesava 45 kg. Que tinha absolutamente tudo, TUDO, que eu pude colocar dentro daquela mala. Todas as minhas inseguranças e bugigangas. Precisei de muita ajuda para carregar. A vida sem amigos não tem sentido. Quatro meses depois, nem um terço do que levei, usei... Aí eu precisei mudar de lugar e tinha que levar o que podia carregar... Pobre da minha coluna... ainda tinha muito medo pra levar. 

Depois de muita Marie Kondo, cheguei a uma mochila de 90L, uma mala de rodinhas (daquelas consideradas bagagem de mão) e uma mochila normal, dessas de escola, entupida até o último espaço. Algumas sacolas penduradas. Já com menos peso extra. Carregando sozinha tudo que era meu. Sofrendo terrivelmente por não querer pedir ajuda, levei tudo que era meu. 
Cheguei num lugar em que tinha apenas um lockerzinho pra eu colocar minhas, muitas, coisas. O que era meu tava por todo lado. Comé que essa galera pensa que tudo que é meu vai entrar nesse espacinho de merda?! ... 

Seis meses depois mudei de lugar. Fui pra uma casa. Não era minha. Era bem-vinda, mas não era meu espaço.

Uma mochila 90l, uma mala de rodinhas, uma mochilinha já meio vazia. Pra que é que eu preciso disso mesmo? Já tem uma semana sem usar?! Doação, não preciso mais. Alguém aí quer? Opa! Um tênis novo, alguém aí quer meu tênis antigo?

Uma mochila 90l e uma mochilinha meio vazia com os documentos importantes e dinheiro. Que mané uber, bora andando... Será que eu preciso mesmo de tudo isso? Dois tênis e um chinelo... Cinco meias são suficiente, vai?! Você nunca na sua vida vai usar todos esses cremes para pele e corpo, para de se enganar, isso pesa! Acho que vou comprar uma mochila de 70l.. tá sobrando espaço nessa aqui!

Logo eu... 

Entendi que o apego as coisas era medo de esquecer, medo de perder aquele momento especial, medo de mudar. Mas veja só... ele já foi! Já passou! Puff! Neeeeext (como diria Maíra - falaremos dela mais pra frente...). 
Não adianta se apegar, ninguém retém o tempo. 
Me despi do medo, dialoguei com a minha insegurança, que escutada, virou fortaleza. 

Sobrou espaço na mochila. 

Enchi de história, coloquei as palavras, as risadas, os sonhos. Aprendi e aprendo sobre o momento, sobre o agora. Logo eu, que vivia saudosista, esperando o futuro, tão distante do presente. 

Já não preciso mais de ajuda pra levar minhas coisas, mas nunca estou sozinha. Tô cercada de gente que também levam as suas mochilas, as vezes maiores, as vezes menores, uns necessitam ajuda, outros ajudam ao próximo. Tenho a sorte de ter parcerias incríveis. 

Minha vida cabe numa mochila cheia de metáforas e sonhos, que se desdobram e crescem, e que só eu posso carregar. 

Logo eu!


4 comentários:

  1. Feliz de voltar a ler seus relatos :) tinha q escrever aqui pra legitimar meu posto de fã kkkk

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  2. Awww amigaaa me emociono al leerte, que linda personita me cruzó la vidaaa, te quiero ♥️

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