sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Essa "culpa" é tua!

Eu não sou responsável por como outra pessoa se sente. Eu. Não. Sou. Responsável. 

Esse é um programa de pensamento bem difícil de mudar. Especialmente sendo mulher nessa
sociedade altamente cruel e machista. Ensinaram-me toda a vida que eu sou responsável
por fazer fazer os outros felizes, por fazer com que os outros se sintam bem.
Que tenho que reprimir, ocultar e calar qualquer coisa que seja incômoda para as outras pessoas.
Que eu sim posso estar incomodada, chateada e triste. Mas que não posso deixar que ninguém
mais se sinta assim. 

Eu não sou responsável.

Eu tô exausta dessa responsabilidade inumana e surreal. De ter que entender. De sempre me
colocar no lugar do outro. Mas e o meu lugar? Fica vazio, porque eu to ocupada me colocando
no lugar dos outros, sentindo pelos outros, pensando e agindo pelos outros. 

Veja bem, não me refiro a responsabilidade afetiva (que tem sido bastante usada para agregar culpa
ao pratinho da mulher...). Refiro-me à culpa que nos é infligida á todo custo. A crença de que
somos (mulheres) responsáveis pelo amadurecimento emocional de outra pessoa (em geral, homens).

Eu tô cansada de ser pra todos e esquecer de ser pra mim. 

Eu não sou responsável. 

Não sou responsável pela pessoa que se apaixonou por mim e que eu não pude retribuir. 
Não sou responsável pelas escolhas divergentes das outras pessoas. 
Não sou responsável por você não saber colocar em palavras seus sentimentos. 
Não sou responsável por você me ferir e eu me afastar. 
Não sou responsável pelo seu trauma sofrido. 
Não sou responsável por te curar. Não sou. 

Eu posso te ajudar com tudo isso. Posso oferecer-te minha distância, meu ombro, minha escuta,
meu carinho, te ajudar a encontrar ajuda médica se preciso, ver filmes e te ajudar a relaxar.
Mas eu não sou responsável. 

Digo isso pra você e digo isso para mim. A partir de agora Eu não sou mais responsável por você.
Por qualquer um que não seja eu. 

Eu sou apenas uma pessoa em construção. E por mim, eu sou responsável.

sábado, 25 de maio de 2019

Minha "religião" é viajar


Ainda não acredito que me joguei no mundo. Ainda acordo todos os dias um pouco perdida e sem entender que meu sonho está sendo realizado todo dia. Que não é mais sonho, é a minha realidade. 
Me dei conta que a gente não tá preparado para viver os sonhos, só pra sonhar mesmo. Que loucura!

Outra coisa que tenho aprendido é que os sonhos não alcançam a dimensão da realidade. É sério. Eu sonhei com me aventurar por aí, aprender novas línguas, conhecer gente e mergulhar em culturas. Eu não podia imaginar o quanto eu ia aprender... O mundo "viajero" é foda. Já aprendi tanto, TANTO e em tão pouco tempo ... 

Levei anos estudando e buscando filosofias e espiritualidades que fizessem sentido pra mim... encontrei partes de mim em muitos lugares, mas não me senti inteira em nenhum. 
Mas olha só como é a vida! Entrei nessa coisa de viajar por um impulso, desejo e mil outros sentimentos juntos, mas nenhum deles estava algo relacionado com essa busca por "espiritualidade". 
No entanto, o que eu mais encontro no caminho são pessoas "aleatórias" que me ensinam muito na prática o que nenhum centro espiritual me ensinou. 
O mais recorrente é ver viajante ajudando viajante sem querer absolutamente nada em troca. Entendendo que o Universo se encarrega das trocas, sem ser forçado, é o sentimento real, transparente em cada ação. É uma certeza tão forte, que só o pleonasmo mais clássico para ilustra: a certeza absoluta que tudo que vai, volta. E isso, essa paz e confiança (fé), é altamente contagiosa.  É como se de repente eu entrasse em um circulo de energias coloridas, de sorrisos e camas/sofás quentinhas, de dicas e indicações, de amizades instantâneas e famílias em cada canto do mundo. 
E é lindo, é o movimento mais lindo que eu já vi na vida. 

Comecei sozinha esta aventura, mas hoje tenho a certeza de que nunca mais estarei sozinha. Existe uma rede e eu posso me jogar no mundo sem ter medo de cair.  Tô aqui pra sustentar e ser sustentada por ela . Eu faço parte.

E a verdade é que não há sonho que chegue nessa felicidade, isso, amigo... só na realidade! 

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Arroto, peido e cocô


Conviver é complicado. 
O cotidiano é complicado. 
Quando a gente tá numa relação de "dia ou outro", a gente releva muita coisa. Deixa pra lá, vai pra casa e respira novos ares. Depois vê que nem era tão assim, mas a proximidade e a "impossibilidade" de ir-se faz tudo ficar mais efervescente.

Mas é o começo... Depois vem a leveza da liberdade de Ser e Estar a dois.

Enquanto a gente não convive tempo suficiente debaixo do mesmo teto, a gente não faz ideia do teretetê que é a intimidade. Porque veja bem, se você mora em outra casa, você aguenta até lá para peidar e/ou cagar... Mas quando você mora na mesma casa, amigo... Não dá...
É uma metáfora muito completa para as fases da relação... Veja bem, no começo a gente sempre finge ser uma versão melhor do que somos, normal. Tu finge e eu também. Eu finjo que acredito e você também. E tá tudo bem. Até o primeiro arroto que sai assim sem querer... Como aquela crítica ou aquela vacilada de levinho, o primeiro indicio de nossa imperfeição. E depois é um tal de comprimir daqui e dali .. Que é só a bomba relógio se formando... 
Com o tempo a gente vai relaxando e permitindo que o nosso companheiro conheça esses lados que não curtimos muito, arrotamos aqui e ali, dizemos mais o que pensamos. A gente vai relaxando.
Mas ainda não cagamos ou peidamos... Desaparecemos por largos momentos, mas estávamos apenas arrumando o cabelo, tomando banho ou respondendo a um e-mail...
Mas quando a gente tá debaixo do mesmo teto, mermão.. Não tem jeito não. Uma hora a gente se dá conta que o parceiro caga e que peida. 'Aí meu Deus! Se eu me dei conta, ele também!' A gente começa a perceber, que ele/eu não era não perfeito assim, que deixa a roupa suja pelo chão, que faz mais zona que você, que come seu chocolate e as vezes não tá afim de te escutar. Que acorda de mau humor, assim como você. Que tem momentos de extrema grosseria. A gente sente o cheiro da merda. A gente vê tudo aquilo que não tinha visto ou não queria ver antes, o real.
Mas eu creio que só aí que a gente consegue ver também o outro lado. As pequenas gentilezas, o beijo de bom dia, o carinho para o café da manhã, deixar agua quente para você se banhar também, as massagens nos dias de luta... É porque a gente também tá aliviado. A gente também parou de fingir que não faz nada errado. A gente deixa a perfeição fingida, deixa de estar enfezado (esse é o termo que eu mais gosto em português, porque é literalmente estar cheio de fezes, constipado e portanto no limite da irritação e loucura). A gente se esvazia dos excessos, do que não pertence e passa a experimentar o que é.

Eu desejo que todos aprendam a viver com os arrotos, peidos e cocôs dos seus parceiros. A vida imperfeita é mais bonita, simpática e empática.
Eu cago, tu cagas, nós cagamos!

domingo, 3 de fevereiro de 2019

A vida numa mochila

É muito louco ver sua vida resumida numa mochila. Logo eu. Logo a minha...

Eu que sempre juntei tudo, que sempre guardei papel de bala daquele dia importante, com a entrada de cinema daquele filme inesquecível.
Mas aí eu decidi migrar...

Logo eu. Enraizada de medo. Fincada no pânico das mudanças. E completamente apaixonada pelo novo. Irônico, controverso e um desafio diário. 
Acho muito engraçado quando as pessoas me dizem que queriam ser "assim como eu, desapegada, 'livre' ...". Logo eu. A galera não tem ideia dos processos vividos. Das etapas até ser 'livre'. Taí uma palavra muito louca, mas isso é pra outro momento... eu tava falando mesmo é da mochila...

Foi um longo caminho para chegar até uma mochila. Primeiro foi uma mala que pesava 45 kg. Que tinha absolutamente tudo, TUDO, que eu pude colocar dentro daquela mala. Todas as minhas inseguranças e bugigangas. Precisei de muita ajuda para carregar. A vida sem amigos não tem sentido. Quatro meses depois, nem um terço do que levei, usei... Aí eu precisei mudar de lugar e tinha que levar o que podia carregar... Pobre da minha coluna... ainda tinha muito medo pra levar. 

Depois de muita Marie Kondo, cheguei a uma mochila de 90L, uma mala de rodinhas (daquelas consideradas bagagem de mão) e uma mochila normal, dessas de escola, entupida até o último espaço. Algumas sacolas penduradas. Já com menos peso extra. Carregando sozinha tudo que era meu. Sofrendo terrivelmente por não querer pedir ajuda, levei tudo que era meu. 
Cheguei num lugar em que tinha apenas um lockerzinho pra eu colocar minhas, muitas, coisas. O que era meu tava por todo lado. Comé que essa galera pensa que tudo que é meu vai entrar nesse espacinho de merda?! ... 

Seis meses depois mudei de lugar. Fui pra uma casa. Não era minha. Era bem-vinda, mas não era meu espaço.

Uma mochila 90l, uma mala de rodinhas, uma mochilinha já meio vazia. Pra que é que eu preciso disso mesmo? Já tem uma semana sem usar?! Doação, não preciso mais. Alguém aí quer? Opa! Um tênis novo, alguém aí quer meu tênis antigo?

Uma mochila 90l e uma mochilinha meio vazia com os documentos importantes e dinheiro. Que mané uber, bora andando... Será que eu preciso mesmo de tudo isso? Dois tênis e um chinelo... Cinco meias são suficiente, vai?! Você nunca na sua vida vai usar todos esses cremes para pele e corpo, para de se enganar, isso pesa! Acho que vou comprar uma mochila de 70l.. tá sobrando espaço nessa aqui!

Logo eu... 

Entendi que o apego as coisas era medo de esquecer, medo de perder aquele momento especial, medo de mudar. Mas veja só... ele já foi! Já passou! Puff! Neeeeext (como diria Maíra - falaremos dela mais pra frente...). 
Não adianta se apegar, ninguém retém o tempo. 
Me despi do medo, dialoguei com a minha insegurança, que escutada, virou fortaleza. 

Sobrou espaço na mochila. 

Enchi de história, coloquei as palavras, as risadas, os sonhos. Aprendi e aprendo sobre o momento, sobre o agora. Logo eu, que vivia saudosista, esperando o futuro, tão distante do presente. 

Já não preciso mais de ajuda pra levar minhas coisas, mas nunca estou sozinha. Tô cercada de gente que também levam as suas mochilas, as vezes maiores, as vezes menores, uns necessitam ajuda, outros ajudam ao próximo. Tenho a sorte de ter parcerias incríveis. 

Minha vida cabe numa mochila cheia de metáforas e sonhos, que se desdobram e crescem, e que só eu posso carregar. 

Logo eu!


Essa "culpa" é tua!

Eu não sou responsável por como outra pessoa se sente. Eu. Não. Sou. Responsável.  Esse é um programa de pensamento bem difícil de ...